sexta-feira, outubro 14, 2011

«Precisamos de ideias e de tempo!» - José Couto

foto «Diário as Beiras»
A cada semana que passa ficamos a conhecer novas dificuldades, dívidas ou quebras de receitas que aumentam o défice estrutural do Estado e implicam o reforço das medidas de ajustamento. Ainda temos que saber o montante de impostos que não foram pagos pelas empresas ao longo deste último ano porque não houve tesouraria para tanto.
Começa a ficar clara uma espiral negativa que se não for interrompida asfixiará as nossas empresas e famílias e nos lançará para um ciclo de empobrecimento dramático de resolução ainda mais difícil.
Não tenho qualquer dúvida sobre a inevitabilidade de uma política restritiva de consolidação orçamental de ajustamento. No entanto temos de perceber que como essa política vai demorar tempo, que a nossa economia não tem, a produzir os efeitos positivos no crescimento económico, vamos ter de desenvolver acções complementares que permitam às nossas PME, principalmente as exportadoras, crescer e contribuir para a criação de valor.
Os últimos sinais são preocupantes e as notícias apontam para maior pressão fiscal sobre as empresas e famílias. Parece-me óbvio que se não criarmos, urgentemente, condições para o crescimento da nossa economia, por muito que o Estado se concentre na cobrança da colecta, a redução da matéria colectável reduzirá as receitas fiscais a arrecadar, reforçando o problema.
Já não se pode falar da falta de aviso. São várias as pessoas que já vieram apontar esta debilidade - a falta de soluções para estimular o crescimento. Só para falar em duas personalidades acima de qualquer dúvida, primeiro o Senhor Presidente da República afirmou, sem rodeios, que se não houver crescimento o esforço que estamos a fazer será em vão, depois a Dra. Manuela Ferreira Leite foi mais longe e defendeu uma renegociação dos prazos de ajustamento, para permitir compatibilizar medidas que suportem o crescimento da economia.
A verdade é que a negociação do programa de ajustamento foi realizada num quadro de crescimento da economia da europa que já se alterou e num pressuposto de estabilidade dos mercados financeiros que se desmoronou.
As empresas estão exauridas e a classe média está a desaparecer. O ajustamento orçamental é essencial para a nossa sustentabilidade, mas esse ajustamento só será possível se a economia crescer. Será das empresas a responsabilidade de criar valor, mas ao Estado cabe, pelo menos, o papel de criar condições que suportem o seu crescimento.

José Couto
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Texto publicado no jornal «as Beiras»
O nosso colega José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

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