domingo, janeiro 25, 2009

«Escolas de Poder»

Vocês leram a revista «Visão» desta semana (de 22 de Janeiro)?
Um artigo fala das «Escolas de Poder». E refere o que nós sabemos por experiência própria:
"(...) os problemas dos portugueses (desemprego, nível de vida, défice) são, cada vez mais, económicos. Os economistas passaram a ser uma classe em ascenção na política. Em especial os que estão ligados à Universidade Católica. (...) a influência da universidade da Igreja, recentemente nomeada uma das 50 melhores business schools da Europa, está a crescer".

Já me envolvi em algumas discussões com colegas formados por outras escolas que menosprezavam a formação dada em Coimbra na FEUC. O diálogo mais delicioso, que me lembre, foi com um camarada de tropa, licenciado em Economia pela Universidade do Porto. Dizia-me ele:
- É muito mais difícil tirar boas notas no Porto do que em Coimbra. No meu curso, a melhor média foi de 16, de uma aluna que era fora de série.
- És capaz de ter razão - disse-lhe eu - só que no meu curso a média mais alta foi de 15. Por acaso foi a minha média. Mas claramente eu não sou fora de série.

E, vinte e cinco anos depois de ter terminado o curso de Economia na FEUC, continuo a preferir, de longe, as «escolas de fazer» às escolas de poder».

Passa a outro e não ao mesmo!


Questionário Zinga

Pedido do Ricciulli:

"Caríssimos,
Quando se trata de pedir sacrifícios, a quem nos devemos dirigir?
Racionalmente, em primeiro lugar, seria aos nossos inimigos, depois às pessoas de quem não gostamos, seguidamente aquelas de quem menos gostamos, e por último aquelas por quem temos estima e consideração.
Porém, os primeiros na lista dificilmente iriam colaborar, restando apenas esperança para o último grupo. Portanto, sobra-me tomar uma atitude “irracional” como esta: p.f., ajudem o camarada ZINGA e respondam ao inquérito. Eu já fiz a minha parte, e não demorei muito tempo. Se tiverem mais amigos que possam sacrificar, o Zinga e o Arnaldo Coelho ficariam encantados, e vocês sempre se poderiam vingar da minha partida…
Vamos lá, rapazes, afinal é um ZINGA que chama por nós!
Obrigados e um abraço,
Ricciulli"

Eu já lá fui e não doeu nada.
Ide, ide!

domingo, janeiro 11, 2009

«Nós por cá»...

... vamos indo.
Em Dezembro de 2007, na minha «sétima carta de trás da serra» na revista «Perspectiva», relembrei de forma romanceada uma conversa entre mim e o Alexandre, em 1980, no intervalo entre duas aulas nos «galinheiros» (pavilhões pré-fabricados) da faculdade de economia da universidade de Coimbra. Na «carta», ficou assim:
"Quando na mesma conferência [da Ordem dos Economistas, em Lisboa] se falou dos problemas que se colocam à economia portuguesa, ficou claro que o Estado português está em falência técnica. Isto é uma conclusão minha, que aquela malta não pode dizê-lo, sob risco de terem problemas com a entidade patronal. Aliás, quando depois das primeiras chuvas de Outono fui aos míscaros com a Rosita e o Alex Narigudo, ele viu um «peido da avó», como chamamos por aqui àqueles cogumelos cujo chapéu parece um balão. Como sempre fizemos desde pequenos, pisou-o e aquilo soltou o ar lá de dentro como uma discreta bufa. E o Alex comparou: «Estes peidos da avó são como a economia. Transmitem uma imagem que nos ilude, mas são ocos por dentro».
Por isso, agora nada me admira. Aliás, estou bem preocupado com algo de que quase não ouço falar e que nos afecta praticamente a todos: a Segurança Social já estava com dificuldades de há anos a esta parte porque, diziam, os fundos e as contribuições recebidas não eram suficientes para garantir as pensões de reforma e invalidez da geração actual das pessoas que vêem uma fatia significativa do seu ordenado (11%) irem obrigatoriamente para essa entidade. Ou seja, de um salário de mil euros, por exemplo, 110 euros não recebemos porque a entidade patronal tem que entregar em nosso nome essa verba à Segurança Social. E, "ainda por cima" - aqui aplica-se muito bem esta frase - a entidade patronal ainda tem que pagar mais 237,50 euros. Para quê? Supostamente para termos garantido - diz o Estado - uma pensão quando nos reformarmos... ou em caso de invalidez... ou de desemprego...
Mas, como um desenho humorístico recente resumia sobre o «caso Madoff», dois matulões interrogavam o Bernard L. Madoff:
- Onde é que aprendeu a pagar a investidores antigos com dinheiro de novos investidores?
Encandeado com um foco de luz a apontar-lhe a cara, Madoff responde-lhes:
- Com a Segurança Social!
"Então, Paulo Moura, isto não é nada de novo!" - Pois não, mas já ouviram falar da pancada que os fundos da Segurança Social levaram com esta queda nas bolsas de valores? Sim, sim, o nosso dinheirinho, que a Segurança Social já não podia garantir que chegava para todos, agora ainda minguou mais. E nós, cantamos e rimos?

O Medina Carreira chama os bois pelos nomes. Na entrevista que deu ao «Nós por cá» relembrou que já Rafael Bordalo Pinheiro chamava no fim do século XIX a "porca da política" e a economia era uma "galinha choca". Medina Carreira comparou a política actual a uma "santola só com casca". Eu continuo a chamar a tudo isto "o peido da avó".


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Texto publicado originalmente no meu blog «Persuacção»