sexta-feira, outubro 28, 2011

«Era para ser sobre castanhas…» - José Couto

foto «Diário as Beiras»
Estava decidido a falar de castanhas, de castanhas assadas que se vendem nas “baixas” das nossas cidades. Porque estamos, todos estamos, fartos de conversas sobre o orçamento de estado para 2012 – e ainda a procissão vai no adro. Mas não posso deixar de chamar à atenção um comentário do Primeiro Ministro que assumiu que o caminho proposto é de empobrecimento significativo, que apela à nossa capacidade de ter “fé” e ao facto de o esforço de consolidação que nos é pedido para o próximo ano ser hercúleo – 6 mil milhões de euros – o que, para muitos, pode levar como diz o ditado: em que em vez morrer da doença, poderemos mesmo vir a padecer da cura.
As empresas têm de se preparar para várias implicações negativas: os efeitos recessivos da redução do rendimento disponível e da contração da procura interna, a que se junta o impacto negativo provocado pela redução dos consumos intermédios e do investimento. Acrescem o efeitos do aumento da tributação indireta e direta sobre as empresas, sem esquecer as dificuldades que resultam da falta de financiamento da economia. Só as reduções anunciadas nos consumos intermédios e em despesas de capital representam quase 1800 milhões de euros. Das mudanças no IVA espera-se uma receita adicional superior a 2.000 milhões.
Para a nossa região e para as nossas cidades, atendendo a que o comércio representa a maioria das empresas, os impactos da redução de rendimento disponível podem ser dramáticos.
Os nossos centros urbanos já apresentavam debilidades que apontavam para a necessidade de investimento na sua dinamização. Com este orçamento, as famílias, mas também as nossas cidades, comércio e serviços que dependem do consumo interno vão bem sofrer com as medidas anunciadas. A quantidade de rendimento retirado é enorme: os cortes de subsídios de Natal e Férias retiram 2.000 milhões de circulação. Some-se-lhe os 628 milhões da suspensão da indexação das pensões, 340 milhões do congelamento de salários da administração pública, 115 milhões da redução da dedução específica das pensões e 19 milhões da taxa adicional de solidariedade e do aumento da taxa especial sobre as mais valias.
Junte-se a toda esta capacidade de consumo que desaparece o clima depressivo que por todos se espalha, pondere-se com o aumento aguardado do desemprego e da diminuição do estado e das suas funções e, se nada for feito para contrariar a tendência, bem poderemos imaginar os centros das nossas cidades no próximo outono: os vendedores de castanha estarão sozinhos nas praças...

José Couto
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Texto publicado no jornal «as Beiras»
José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

sexta-feira, outubro 21, 2011

«O documento inevitável…. ou talvez não tanto» - José Couto

foto «Diário as Beiras»
Ao olharmos para este orçamento – quando digo olhar refiro-me a um grupo de pessoas ligadas à atividade empresarial e associativa que procurou ler com cuidado o documento e refletir – ficámos com algumas dúvidas. Talvez estejamos a assistir a um processo criativo para que o rumo da economia seja definitivamente alterado e possamos ter orçamentos fiáveis, reformas necessárias concretizadas e desapareçam as barreiras ao processo de produção de riqueza e a necessária distribuição de rendimentos. Mas persistem dúvidas quanto às opções, porque se espera demais da capacidade de obter receitas através da coleta quando a expectativa é a economia contrair 2,8 por cento no próximo ano.
Gera preocupação acrescida não termos conseguido (ainda) perceber se existe uma ideia estratégica para o país que para além de estar no pensamento dos governantes, esteja plasmada em termos objetivos e rigorosos em documentos com carácter vinculativo.
Já percebemos que o mais fácil está a ser feito, para quando o mais difícil? Para quando as alterações complexas e estruturais que darão modernidade, eficiência e eficácia ao Estado?
Será certamente impopular, mas este Governo terá de aproveitar o actual apoio na sociedade civil e no parlamento para verdadeiramente encetar as mudanças que cortando o peso excessivo do estado promovam crescimento e competitividade. Há bem mais a fazer que a austeridade.
É que parece que ninguém ouve os empresários ou então têm uma perspetiva que o limite está longe, que o tecido produtivo é mais elástico e resiliente, mas na verdade parece que as empresas caiem à razão de 8 por dia. Não cairão apenas as mais fracas, as menos preparadas, mas também aquelas que num salto de conjuntura foram apanhadas por fatores completamente exógenos à sua atividade, fatores não percetíveis e decorrentes de efeitos colaterais.
Só conseguiremos pagar aos credores e reduzir o deficit se produzirmos, se criamos riqueza, se vendermos aos consumidores internos e externos. Na nossa opinião se o decréscimo da atividade for de 2,8% e não forem tomadas medidas que estimulem a economia que acompanhem a execução deste orçamento, poderemos não estar a crescer em 2013, o que é grave.
Falta ainda a este documento uma ideia, um ambiente de esperança que promova um elã de realização que, sendo intangível, é de grande importância para prossecução dos objetivos e vital para a motivação.

José Couto
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Texto publicado no jornal «as Beiras»
O nosso colega José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

sexta-feira, outubro 14, 2011

«Precisamos de ideias e de tempo!» - José Couto

foto «Diário as Beiras»
A cada semana que passa ficamos a conhecer novas dificuldades, dívidas ou quebras de receitas que aumentam o défice estrutural do Estado e implicam o reforço das medidas de ajustamento. Ainda temos que saber o montante de impostos que não foram pagos pelas empresas ao longo deste último ano porque não houve tesouraria para tanto.
Começa a ficar clara uma espiral negativa que se não for interrompida asfixiará as nossas empresas e famílias e nos lançará para um ciclo de empobrecimento dramático de resolução ainda mais difícil.
Não tenho qualquer dúvida sobre a inevitabilidade de uma política restritiva de consolidação orçamental de ajustamento. No entanto temos de perceber que como essa política vai demorar tempo, que a nossa economia não tem, a produzir os efeitos positivos no crescimento económico, vamos ter de desenvolver acções complementares que permitam às nossas PME, principalmente as exportadoras, crescer e contribuir para a criação de valor.
Os últimos sinais são preocupantes e as notícias apontam para maior pressão fiscal sobre as empresas e famílias. Parece-me óbvio que se não criarmos, urgentemente, condições para o crescimento da nossa economia, por muito que o Estado se concentre na cobrança da colecta, a redução da matéria colectável reduzirá as receitas fiscais a arrecadar, reforçando o problema.
Já não se pode falar da falta de aviso. São várias as pessoas que já vieram apontar esta debilidade - a falta de soluções para estimular o crescimento. Só para falar em duas personalidades acima de qualquer dúvida, primeiro o Senhor Presidente da República afirmou, sem rodeios, que se não houver crescimento o esforço que estamos a fazer será em vão, depois a Dra. Manuela Ferreira Leite foi mais longe e defendeu uma renegociação dos prazos de ajustamento, para permitir compatibilizar medidas que suportem o crescimento da economia.
A verdade é que a negociação do programa de ajustamento foi realizada num quadro de crescimento da economia da europa que já se alterou e num pressuposto de estabilidade dos mercados financeiros que se desmoronou.
As empresas estão exauridas e a classe média está a desaparecer. O ajustamento orçamental é essencial para a nossa sustentabilidade, mas esse ajustamento só será possível se a economia crescer. Será das empresas a responsabilidade de criar valor, mas ao Estado cabe, pelo menos, o papel de criar condições que suportem o seu crescimento.

José Couto
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Texto publicado no jornal «as Beiras»
O nosso colega José Couto é presidente do Conselho Empresarial do Centro (CEC)

sábado, outubro 01, 2011

Rap da batalha Keynes - Hayek

Video da autoria de Jeffrey A. Tucker, editor do site www.Mises.org.
Quem me dera ter tido esta "aula" quando estudei na faculdade de Economia...
Socorro-me desta notícia sobre o video para o enquadrar na análise económica e, em particular, no momento de instabilidade que estamos a atravessar:
"A letra da música não só é fenomenal, como também apresenta uma descrição extremamente apurada da visão antagónica que ambos tinham da mecânica dos ciclos económicos.
(...) O debate entre J.M. Keynes e F.A. Hayek, ambos vivendo e leccionando na Grã-Bretanha nos anos 1930, foi um dos grandes debates do século. Desafortunadamente, o charme keynesiano acabou por  prevalecer e Keynes, um homem que estava em frequentes viagens pelo mundo, acabou por conquistar o pódio da audiência — a ponto de influenciar a política de todo o mundo até aos dias de hoje.
Enquanto isso, o sereno e estudioso Hayek nunca de facto teve uma grande plateia. Assim como o seu colega e mentor Mises, Hayek escrevia para jornais académicos e era ouvido apenas por aqueles que tinham uma mente mais céptica, pessoas que duvidavam das políticas e teorias convencionais e tinham a vontade intelectual de pesquisar os assuntos mais a fundo.
(...) Esse debate nunca ocorreu na realidade, uma vez que o ponto de vista hayekiano foi e tem sido sistematicamente marginalizado e escondido pelo establishment político e académico desde que Keynes foi prematuramente declarado o vencedor no final da década de 30.
(...) Além de ser uma bela e elaborada produção, o que realmente impressiona [no vídeo] é a sua transparência e acuidade teórica.
É verdade que em 1974 Hayek recebeu o Prémio Nobel, o que trouxe atenção para a sua obra que havia há muito sido esquecida. O comité do Nobel citou especificamente o trabalho de Hayek sobre a teoria dos ciclos económicos. Mas o renascimento desfrutado por Hayek nos anos seguintes não se centrou nesse aspecto da sua obra. Ao invés disso, toda a atenção foi voltada para elaborações sobre a sua evolucionária teoria social, as suas concepções sobre a ordem do processo de mercado e os seus estudos sobre a lei.
(...) Voltando ao vídeo, (...) Keynes é popular e amado por todos, sempre promovendo um estilo de vida boémio, com festas e farras intensas — o futuro que se dane. Já a personalidade de Hayek é mais intelectual, sóbria e até mesmo um pouco puritana, com um foco na realidade e no longo prazo.
(...) Os termos da argumentação são expostos bem claramente. Hayek diz que os ciclos económicos são causados por "juros baixos" resultantes de intervenções do governo, ao passo que Keynes culpa o "espírito animal" que opera livremente num mercado que necessita urgentemente de ser controlado.
Keynes então começa a explicar a sua teoria para a depressão. Ela é causada pela rigidez de salários e só pode ser curada se houver um estímulo à procura, por meio do aumento dos gastos governamentais e emissão de moeda. Ele defende obras públicas, guerras e janelas quebradas — pois tudo isso estimularia a procura —, alerta contra a armadilha da liquidez, defende déficits, vangloria-se de ter mudado o modo de se estudar economia, e conclui "Diga bem alto, com orgulho, somos todos keynesianos agora!".
(...) Sobra então para Hayek a missão de trazer realismo à discussão. Ele rejeita o argumento de Keynes pelo facto de este esconder muita agregação nas suas equações, as quais ignoram toda a motivação e acção humana. Hayek compara estímulos governamentais ao acto de beber mais para tentar curar uma ressaca. Ele chama a atenção para o facto de que não é possível haver prosperidade sem poupança e investimento.
(...) Ele começa a sua exposição alterando o foco da análise: não é a recessão, mas sim a expansão que deve ser analisada. Pois é durante a expansão que são plantadas as sementes do desastre. A expansão económica começa com uma expansão do crédito. Esse dinheiro recém-criado passa a ser erroneamente visto como sendo poupança real, que pode ser emprestada e investida em novos projectos, como imóveis e construção.
Porém, há uma escassez de recursos necessários para se finalizar esses projectos. Fazer moeda não faz com que os recursos surjam do nada. Esses projectos, portanto, transformam-se em investimentos erróneos. O "anseio por mais recursos revela que não há o bastante". É aí que a expansão se transforma em recessão. Quanto à armadilha da liquidez, ela é apenas uma evidência de um sistema bancário insolvente (...)
Jeffrey A. Tucker
editor do Mises.org
Tradução de Leandro Augusto Gomes Roque"

Apreciem o video:


Rap. Hayek Vs keynes from Fênix Felipe on Vimeo.

O José Couto no diário «as Beiras» de ontem (30/9/2011)

Novo artigo de opinião do nosso colega José Couto, presidente do Conselho Empresarial do Centro, desta vez sobre os graves problemas causados ao sector produtivo pela escassez de liquidez da nossa economia e pelas dificuldades em se conseguir financiamento à actividade.
O artigo está todo aqui: