terça-feira, junho 06, 2006

A ciência incha mas o amor edifica (1 Cor 8,1) - por João Cardoso

"Pretendo com este texto sustentar que a ciência deveria integrar mais o amor e que o amor deveria integrar mais a ciência.
Começarei por falar da ciência em abstracto para depois analisar o estatuto e o papel dos doutores e, por mim, fazer a apologia do amor.
«A ciência, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!»
(Fernando Pessoa)
A ciência burguesa está desconectada da realidade, não sendo a melhor alternativa para a escolástica medieval.
Excessivamente teorizadora, a ciência não simplifica pedagogicamente a realidade, enaltecendo o que é complexo e difícil e não o que é útil e operativo.
A natureza e a sociedade regem-se por leis simples, pois foram criadas por Deus.
Tenho para mim que a massificação desta ciência inacessível é causadora de males modernos como a toxicodependência e o insucesso conjugal, devido ao abandono escolar daqueles a quem Agostinho da Silva chamou Pobre Gente Abandonada.
A ciência burguesa fomenta a intelectualização e a memorização em desfavor da afectividade e da criatividade, não contribuindo para a formação do Homem Integral.
«Ora o feitio especial da doutorice é desatender as realidades,
tudo conceber a priori e querer organizar e reger
o mundo pelas regras dos compêndios.»
(Eça de Queiroz)
Os doutores são uma espécie de casta da sociedade capitalista. Tanto os tecnocratas como especialmente os académicos.
As teses de licenciatura, mestrado, doutoramento e agregação são fonte de individualismo ou mesmo de narcisismo.
Não vigora a Parábola dos Talentos do Evangelho, para já não falar dos Turbo-professores.
A licenciatura é um novo baptismo que faz anteceder o título académico do nome da pessoa.
Sartre via na Biblioteca um Templo, o que explica o seu ateísmo. Tenho para mim que um livro é um homem fechado, ao passo que um homem é um livro aberto. É assim que Fernando Pessoa diz que
«Jesus Cristo não sabia nada de Finanças
Nem consta que tivesse biblioteca»

«A minha maledicência
É simplesmente p'ra aqueles
Que se servem da ciência
Só para proveito deles»
(António Aleixo)
Há Professores que vêem no Ensino um mero pão nosso de cada dia. Ora, o Professor e o aluno devem ter entre si uma relação de paixão amorosa platónica.

Tive uma Professora que falava de uma luta de classes entre Professor e alunos. Tive outro Professor que não queria ensinar tudo o que sabia aos alunos porque não queria concorrência no mercado de trabalho: Bizarro! Aberrante!
A relação Professor - aluno é de complementaridade e deve ser harmoniosa.
Os Professores afirmam do alto da sua cátedra e com pedantaria que os alunos vêm do Secundário com falta de preparação e com poucos hábitos de trabalho. Se assim é, os Professores devem baixar ao nível dos alunos e começar por ensiná-los a estudar.
A sala de aula deve ser como o palco de um concerto musical, com maestro e músicos em consonância.
«Livre-me Deus de negar que os estudantes portugueses
tenham estudado e estudem; mas no genuíno
estudante de Coimbra o amor é mais que o estudo:
o amor à mulher, quero dizer, não o amor à ciência»
(Miguel de Unamuno)
Os estudantes passam pela Universidade na idade de todos os amores: só que se viciam mais no álcool e nas drogas do que se cultivam diletantemente nas artes e nas letras.
A Universidade tem todas as condições para ser um pólo privilegiado da Civilização do Amor de que nos fala a Doutrina Social da Igreja.
Além do amor de que nos fala Miguel de Unamuno, também o serviço social e a luta contra as misérias do mundo devem estar ligados à vida dos estudantes.
Faria um brinde aos estudantes: Que os estudos nunca vos inibam de amar e que os amores nunca vos inibam de estudar.
Falar de amor quase que exige que se cite Florbela Espanca:
«Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais este e aquele, o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!»

João Cardoso"

1 comentário:

  1. "Parece que tôda a gente está de acôrdo em que o mundo inteiro se encontra em crise. Como isto me parece demasiado vasto para eu poder ser util, decidi que sou eu quem está em crise e talvez consiga sair dela com três princípios: O de me ver livre do supérfluo, o de não confundir o verbo amar com o verbo ter, o de prestar voto de obediência ao que for servir, não mandar."

    Agostinho da Silva

    Um beijinho João, subscrevo inteiramente o teu texto

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