Começarei por falar da ciência em abstracto para depois analisar o estatuto e o papel dos doutores e, por mim, fazer a apologia do amor.
«A ciência, a ciência, a ciência...
Ah, como tudo é nulo e vão!
A pobreza da inteligência
Ante a riqueza da emoção!»
(Fernando Pessoa)
A ciência burguesa está desconectada da realidade, não sendo a melhor alternativa para a escolástica medieval.Excessivamente teorizadora, a ciência não simplifica pedagogicamente a realidade, enaltecendo o que é complexo e difícil e não o que é útil e operativo.
A natureza e a sociedade regem-se por leis simples, pois foram criadas por Deus.
Tenho para mim que a massificação desta ciência inacessível é causadora de males modernos como a toxicodependência e o insucesso conjugal, devido ao abandono escolar daqueles a quem Agostinho da Silva chamou Pobre Gente Abandonada.
A ciência burguesa fomenta a intelectualização e a memorização em desfavor da afectividade e da criatividade, não contribuindo para a formação do Homem Integral.
«Ora o feitio especial da doutorice é desatender as realidades,
tudo conceber a priori e querer organizar e reger
o mundo pelas regras dos compêndios.»
(Eça de Queiroz)
Os doutores são uma espécie de casta da sociedade capitalista. Tanto os tecnocratas como especialmente os académicos.As teses de licenciatura, mestrado, doutoramento e agregação são fonte de individualismo ou mesmo de narcisismo.
Não vigora a Parábola dos Talentos do Evangelho, para já não falar dos Turbo-professores.
A licenciatura é um novo baptismo que faz anteceder o título académico do nome da pessoa.
Sartre via na Biblioteca um Templo, o que explica o seu ateísmo. Tenho para mim que um livro é um homem fechado, ao passo que um homem é um livro aberto. É assim que Fernando Pessoa diz que
«Jesus Cristo não sabia nada de Finanças
Nem consta que tivesse biblioteca»
«A minha maledicência
É simplesmente p'ra aqueles
Que se servem da ciência
Só para proveito deles»
(António Aleixo)
Há Professores que vêem no Ensino um mero pão nosso de cada dia. Ora, o Professor e o aluno devem ter entre si uma relação de paixão amorosa platónica.
Tive uma Professora que falava de uma luta de classes entre Professor e alunos. Tive outro Professor que não queria ensinar tudo o que sabia aos alunos porque não queria concorrência no mercado de trabalho: Bizarro! Aberrante!
A relação Professor - aluno é de complementaridade e deve ser harmoniosa.
Os Professores afirmam do alto da sua cátedra e com pedantaria que os alunos vêm do Secundário com falta de preparação e com poucos hábitos de trabalho. Se assim é, os Professores devem baixar ao nível dos alunos e começar por ensiná-los a estudar.
A sala de aula deve ser como o palco de um concerto musical, com maestro e músicos em consonância.
«Livre-me Deus de negar que os estudantes portugueses
tenham estudado e estudem; mas no genuíno
estudante de Coimbra o amor é mais que o estudo:
o amor à mulher, quero dizer, não o amor à ciência»
(Miguel de Unamuno)
Os estudantes passam pela Universidade na idade de todos os amores: só que se viciam mais no álcool e nas drogas do que se cultivam diletantemente nas artes e nas letras.A Universidade tem todas as condições para ser um pólo privilegiado da Civilização do Amor de que nos fala a Doutrina Social da Igreja.
Além do amor de que nos fala Miguel de Unamuno, também o serviço social e a luta contra as misérias do mundo devem estar ligados à vida dos estudantes.
Faria um brinde aos estudantes: Que os estudos nunca vos inibam de amar e que os amores nunca vos inibam de estudar.
Falar de amor quase que exige que se cite Florbela Espanca:
«Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui... além...
Mais este e aquele, o outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!»
João Cardoso"
"Parece que tôda a gente está de acôrdo em que o mundo inteiro se encontra em crise. Como isto me parece demasiado vasto para eu poder ser util, decidi que sou eu quem está em crise e talvez consiga sair dela com três princípios: O de me ver livre do supérfluo, o de não confundir o verbo amar com o verbo ter, o de prestar voto de obediência ao que for servir, não mandar."
ResponderEliminarAgostinho da Silva
Um beijinho João, subscrevo inteiramente o teu texto